"Stranger In Moscow"
Ela caminhava apressadamente, deixando atrás de si um rasto de tristeza e melancolia. Seu corpo se encolhia sob o rigoroso frio de dezembro, fazendo suas mãos e suas pernas tremerem constantemente. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, e ela tentava desesperadamente se afastar de todas aquelas lembranças que poderiam fazer-lhe mal. Desejou que os homens pudessem ser mais verdadeiros e menos mesquinhos. Já havia se decepcionado com eles centenas de vezes, e tinha medo de perder a capacidade de amar e entregar-se novamente a uma ardente paixão.
Olhando para os lados, percebeu que a rua pela qual passava encontrava-se deserta e mal iluminada. Em uma prece silenciosa, pediu a Deus que arrancasse a insuportável dor que se instalara em seu peito e a levasse para longe de si. Sentia-se desesperadamente só, como se tudo no mundo se privasse a dor e solidão.
De repente, pingos de chuva começaram a cair do céu. Aquilo parecia ser um bom presságio. Pendeu a cabeça para trás e fechou os olhos, na esperança de que a água lavasse sua alma e carregasse consigo a sua tristeza.
- Como você se sente? – ouviu uma voz masculina perguntar, chamando sua atenção.
Ao abrir os olhos, pôde ver quem era o dono daquela voz suave e melodiosa. Um homem de pele clara, corpo esguio, olhos intensos, com os lábios retraídos em um pequeno sorriso.
O mundo parecia ter parado de fazer o seu percurso normal. Estavam ali, sozinhos, um diante do outro, duas almas perdidas, necessitadas de carinho e afeto.
Abraçaram-se, enquanto a chuva continuava cair. A expressão no rosto do desconhecido mostrava que não havia motivo algum para ela se preocupar. Estava ali para protegê-la e guiá-la pelo caminho da felicidade que nunca conhecera.
- Finalmente você veio – ela conseguiu murmurar, tendo a certeza de que suas preces haviam sido atendidas.
O homem sorriu e aproximou-se dos seus lábios, unindo-os em um intenso beijo.
Os lábios do homem misterioso percorreram a sua nuca, seu ombro, e os seus dedos ágeis abriram os botões do seu vestido. O esguio corpo masculino envolveu-a com ternura e delicadeza, puxando-a para o mais próximo possível de si. A respiração entrecortada de ambos se misturava com o som dos pingos batendo sob a calçada, e os sussurros se fizeram ouvir sem nenhum pudor.
Aquele toque despertava nela sensações que até então não conhecia, e ali perdeu-se em íntimas carícias, tomada por um desejo arrebatador, que não se achava capaz de explicar.
Quando os lábios do homem desconhecido se separaram dos seus e suas mãos pararam de percorrer o seu corpo, ela abriu os olhos e pôde perceber que a chuva cessara de repente. Viu-se imediatamente tão sozinha quanto antes, parada no meio da rua, com o coração pulsando rapidamente.
Notou que a solidão a fizera se perder em devaneios. Fora catapultada para um universo paralelo, onde tudo parecia ser possível.
Obrigou suas pernas a continuarem o percurso sobre a calçada, e pouco depois começou a chover novamente.
Fechou os olhos mais uma vez, na esperança de que o desconhecido se aproximasse de si como da primeira vez. Na fantasia encontrara uma mágica felicidade, que nunca havia se permitido experimentar.
- Como você se sente? – ouviu a voz delicada perguntar-lhe novamente, fazendo seu coração se acelerar.
Ela abriu um pequeno sorriso e aninhou-se em seus braços; desejando que a chuva não mais parasse de cair.
*Fim