Jazz, Michael Jackson, cinema, fotografia, tudo poder ser ensaio, de acordo com o mediador Paulo Roberto Pires, ao iniciar o debate “A arte do ensaio”. A penúltima mesa da 11ª Flip aconteceu na tarde deste domingo (7), com a presença dos ensaístas contemporâneos Geoff Dyer e John Jeremiah Sullivan.
O britânico Dyer, autor de “Todo aquele jazz”, disse que se apaixonou por jazz quando tinha 20 anos e não encontrava muitos livros sobre o assunto. “Eu não era a melhor pessoa para escrever esse livro porque não entendo nada de música e partituras”, afirmou. Ele disse que escreveu o livro em 1989 e que, na época, andava por Nova York ouvindo música no walkman. “Isso funciona bem para um tipo de sinestesia que você aprende a música visualmente. Ia a shows todas as noites e encontrava os músicos, mas não os entrevistava, não falava com eles. Não sabia que livro estava fazendo”.
Dyer conta que já escreveu livros sobre diferentes tópicos. “O ensaio faz parte da vida de todos nós. É a unidade básica da educação, quando estamos na escola e temos que fazer uma redação, que é uma espécie de ensaio. Está ficando na moda agora, mas eu passei 35 anos fazendo isso. Nunca parei de fazer dever de casa. Escrever ensaio é uma forma de ter disciplina de continuar a aprender sobre coisas que me interessam. Ensaio não é para especialistas, pode ser amadorístico”, contou.
Autor de “Pulphead”, o norte-americano Sullivan disse que “a confusão do ensaio faz parte da atração da forma, que é pouco solta, que funciona bem para amadores”. Sullivan acha estranho escrever sobre quando era criança. “Eu volto com frequência a minha infância, mas sempre sai de forma um pouco estranha e disfarçada de outra coisa”.
Dyer afirmou que também escreve muitos ensaios sobre sua infância, mas não sabe por que nunca fez uma biografia. “Não que eu seja narcisista, interessado em mim, mas sou um escritor disponível, barato e confiável, e sei exatamente o que preciso fazer como pesquisador, então faz sentido me escolher como objeto”, completou.
O escritor americano leu um trecho de um ensaio sobre Michael Jackson e, em seguida, comentou sobre sua escolha. “O Michael era a pessoa mais famosa da Terra. Tudo que era dito sobre ele era tão igual e superficial. Todo mundo julgava o que ele fazia e ele se embrulhava em torno da mídia americana”. Sullivan conta que pediu para escrever sobre Michael Jackson e ouviu a música dele por algumas semanas para tentar elaborar o livro. “Houve a oportunidade de escrever sobre ele de uma maneira que eu não vi escrito em outro lugar. Foi divertido esquecer que ele era uma celebridade”, afirmou.
O ensaísta disse que começou a imaginar um destino diferente para o astro pop. “Ninguém perguntou a ele se ele queria ser famoso. Quando ele se tornou consciente do que era na vida, já era famoso. Essa narrativa era mais interessante para mim do que o que eu estava vendo na TV”, completou.
Fonte: G1