Por Alan Duke, CNN
seg 25 março de 2013
Los Angeles (CNN) - Dr. Conrad Murray defendeu sua advogada de "uma série de comentários depreciativos" dias antes de apresentar o recurso pela condenação de homicídio involuntário pela morte de Michael Jackson.
CNN obteve as alegações do Apelo de 300 páginas, incluindo o argumento da defesa de que o juiz errou ao não permitir o testemunho de Dr. Arnold Klein, dermatologista cuja defesa sustentou ter sido responsável pela administração de Demerol em Jackson em suas últimas semanas.
O Apelo de Murray, também afirma que os promotores nunca provaram que Jackson estava ligado a um gotejamento IV do medicamento que o matou. A teoria da defesa é a de que Jackson havia auto administrado a dose fatal se, enquanto o médico estava ausente.
O legista determinou que Jackson morreu de uma overdose do anestésico cirúrgico propofol em combinação com sedativos em 25 de junho de 2009. Murray disse aos investigadores que ele usou propofol para induzir o sono, porque Jackson sofria de insônia.
Murray toma partido na disputa entre advogados
Durante uma chamada de telefone à CNN no último sábado, da prisão do condado de Los Angeles, onde ele está preso desde que foi condenado a quatro anos de prisão - declarou que foi "impelido a defender" a advogada Valerie Wass, que esteve envolvida num embate pessoal com o advogado que participou do julgamento de Murray, Michael Flanagan.
Flanagan estava auxiliando Wass, a redigir o recurso, até que os dois advogados se envolveram em uma discussão na prisão onde Murray cumpre pena, em Janeiro. Flanagan se retirou do caso Murray após o incidente, mas o tribunal de apelações ordenou que ele respondesse aos pedidos de Wass em relação ao material que instruiria o recurso, o qual segundo ela estava retido com ele.
Murray, que testemunhou o incidente ocorrido em janeiro entre seus advogados, emitiu uma declaração clara de apoio à Wass.
"Nas últimas semanas, eu me tornei consciente de que uma grande quantidade de comentários depreciativos e informações pessoais sobre a minha advogada, Valerie Wass, foram injustamente disseminadas na mídia para o público", disse Murray. "Por causa dessa injustiça, eu sou impelido a defender esta mulher, por quem tenho o maior respeito e confiança."
Respondendo à CNN no domingo, Flanagan disse que não tinha comentários.
"Embora Wass precisasse de ajuda, ela não desistiu, não abandonou o barco, nem sucumbiu à pressão, enquanto outros abdicaram de suas responsabilidades", disse Murray. "Ela manteve firmemente a sua conduta profissional e moral, o que foi reforçado pela sua coragem incrível de mente e de espírito."
Ainda afirmou: "Wass estava a meu favor em meio a uma série de difíceis e desafiadores obstáculos e cuja lealdade permanece indiscutível. Ela me convenceu de que sofreu um golpe pessoal por mim e eu quero que ela saiba que eu vou ser eternamente grato. "
Apelo de Murray: vício de Jackson em Demerol
Apesar da possibilidade de Murray ser liberto daqui a sete meses, ele está tentando limpar o seu nome e recuperar sua licença médica através da anulação de sua condenação por força do recurso.
O apelo alega que o juiz da côrte Superior de Los Angeles, Michael Pastor, injustamente impediu que os advogados de Murray usassem argumentos de que Jackson estava sofrendo os efeitos da abstinência de Demerol no dia que morreu.
"A razão pela qual se buscou provar que Jackson estava passando por abstinência de Demerol em 25 de junho, foi mostrar o seu estado de espírito - especificamente, o seu estado fisiológico e psicológico, aliado a pressão que ele estava para a preparação para a próxima turnê, o que o tornava tão desesperado para dormir que ele poderia tomar medidas extraordinárias de auto-administração de propofol quando estava fora da presença do recorrente", Wass sustenta.
Especialistas convocados pela defesa testemunharam no julgamento que a insônia de Jackson poderia ter sido causada pela interrupção do consumo de determinados medicamentos.
A defesa queria que Klein e dois funcionários depusessem sobre 23 visitas de Jackson à sua clínica em Beverly Hills, nos três meses que antecederam a sua morte, incluindo cinco em junho de 2009. Demerol teria sido administrado à Jackson durante essas visitas, a última ocorreu em 22 de junho, três dias antes de sua morte.
"Michael Jackson não conseguia dormir por causa do Demerol", disse a defesa em argumentos usados na fase primária do julgamento. "Dr. Murray não sabia disso. Mas Arnold Klein sabia. Michael Jackson precisava dormir, porque ele estava abstinente de Demerol. Isso é importante para a nossa defesa. Na verdade, é absolutamente vital."
Pastor, no entanto, decidiu que o depoimento de Klein e sua equipe seria uma "distração e divergência" no julgamento.
"A defesa também não foi capaz de provar que Jackson era viciado em Demerol e estava abstinente da substância quando morreu, porque os especialistas que testemunharam no caso não poderiam chegar a esta conclusão com base nos registros de Klein," Wass menciona no recurso.
Se Klein ou sua equipe tivessem sido autorizados a depor no julgamento, "é bem provável que pelo menos um jurado tivesse considerado o recorrente inocente por homicídio involuntário", o apelo argumenta. "Assim, independentemente da norma aplicável à revisão, a convicção formada contra o recorrente deve ser revertida."
Apelo Murray: Nenhuma prova de gotejamento IV
A teoria da acusação no julgamento foi a de que Murray havia administrado o medicamento à Jackson através de gotejamento IV improvisado, além de tê-lo deixado para fazer chamadas telefônicas em uma sala adjacente. Murray foi criminosamente negligente porque não monitorou adequadamente o seu paciente, que veio a morrer de uma overdose, argumentaram.
A defesa argumentou que o gotejamento IV foi usado apenas para administrar soro fisiológico na perna de Jackson a fim de hidratá-lo e que Murray teria usado uma seringa a fim de administrar propofol lentamente e de forma segura no sangue de Jackson enquanto ele observava-o adormecer. Por estar frustrado por não conseguir dormir, Jackson poderia ter despertado enquanto Murray estava ausente e administrado a dose fatal a si mesmo, a defesa alega.
"A teoria de infusão de propofol oferecido por especialista da acusação não foi suportada pela evidência, e, na verdade, era tão absurda, improvável e inacreditável que não poderia ter havido a conclusão de que as provas eram suficientes para estabelecer que o recorrente tinha colocado Jackson em um gotejamento de propofol no dia de sua morte ", o apelo argumenta.
A promotoria construiu a teoria de gotejamento IV, com base no testemunho de um dos seguranças de Jackson que disse que viu uma garrafa de propofol pendurada acima da cama de Jackson, quando ele chegou para ajudar a reanimá-lo. Um investigador também encontrou um saco de soro fisiológico com uma fenda nele, o que a ou a acusação sustentou ter sido usado para segurar a garrafa no suporte IV.
Wass argumenta que é "pura especulação e a ausência de evidência do utensílio com resíduo de propofol é fatal para a teoria da acusação."
Apelo de Murray: Jackson autoadministrou a dose fatal
Michael Jackson teve insônia na manhã de sua morte, apesar dos esforços de Murray em sua cabeceira através da administração de sedativos.
"É provável que a insônia de Jackson em 25 de junho foi agravada por seu vício em Demerol além de ser resultante da síndrome aguda de abstinência", diz o apelo. "A última injeção de demerol administrada à Jackson foi em 22 de junho, menos de 72 horas antes de sua morte, o que poderia ter sido um período de pico para a ocorrência de sintomas de abstinência."
Mas ele dormiu às 10:40 após uma única dose de propofol, Murray relatou aos investigadores. Depois de observá-lo por 15 minutos, Murray deixou-o sozinho, o recurso relata.
"A evidência é consistente com um cenário em que Jackson rapidamente auto-injetou a dose letal de propofol, enquanto o recorrente estava fora do quarto", afirma o apelo. "Com base nos resultados toxicológicos, parece que a injeção aplicada dessa forma pode levar à parada cardíaca e uma morte súbita."
Ele pode ter tido acesso a um vidro de propofol sem Murray saber, diz o apelo.
"Jackson estava muito familiarizado com propofol, já que outros médicos haviam administrado propofol nele", escreve Wass. "É concebível que Jackson tivesse obtido uma fonte secundária para a droga, especialmente porque Jackson vinha recebendo infusões noturnas do recorrente nos últimos dois meses e o recorrente tinha as noites de domingo de folga."
Se Jackson - não Murray - tivesse administrado a dose final e fatal, então não foi culpa do médico o paciente ter morrido, diz o argumento.
O Apelo de Murray contesta o argumento da acusação de que Murray era criminalmente responsável, mesmo se Jackson tivesse administrado a dose fatal porque Murray deveria saber que deixar medicamentos perto da cama de Michael Jackson era um risco. O risco "não era razoavelmente previsível", sustenta.
A acusação terá a chance de responder aos argumentos de Murray antes do tribunal de apelações da Califórnia tomar uma decisão.